Depois de o Relatório Anual de Segurança Interna ter colocado Albufeira entre os concelhos com maior índice de criminalidade do país, esta zona e a sua alegada ligação à imigração passaram a ser tema de discussão. No entanto, os candidatos concordam que a insegurança se concentra em duas zonas ligadas à vida nocturna, considerando a habitação uma prioridade.
A cerca de um mês das eleições autárquicas, a agência Lusa questionou os cinco candidatos à Câmara Municipal do Algarve sobre estas questões e todos reconheceram - à exceção da candidata da CDU (PCP/PEV), Manuela Vardasta, com quem não foi possível contactar - que os elevados preços dos imóveis e das rendas impedem os munícipes de ter acesso à habitação.
José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal e candidato pela coligação "Ser Albufeira" (PSD/CDS-PP), desvalorizou a ideia de que a segurança é um problema e argumentou que os crimes por habitantes referidos no relatório não reflectem o crescimento populacional provocado pelo turismo, sendo a realidade "distorcida" por conteúdos que proliferam nas redes sociais.
Defendendo Albufeira como um "destino turístico seguro", o candidato do PSD/CDS-PP afirmou que a segurança "não é um problema de todo", mas uma preocupação centrada em "500 ou 600 metros de rua, onde a vida nocturna é mais intensa", e que o consumo excessivo de álcool pode causar problemas, mas não com a dimensão que as imagens que circulam sugerem.
Para além da segurança, há questões mais importantes, como a habitação, a saúde e a educação, sublinhou José Carlos Rolo, rejeitando também a existência de uma ligação entre a insegurança e a imigração, que, observou, "faz muita falta" devido à falta de mão de obra no concelho.
Dados enviesados
Victor Ferraz, candidato pela coligação "Albufeira é Tua" (PS/Livre/PAN/BE), disse que os dados "enviesados" dos relatórios de segurança não o impedem de reconhecer que há "pontos negros" como a Rua da Oura e o centro da cidade. No entanto, sublinhou que "nas freguesias circundantes, nem sequer há esse sentimento" de insegurança, nem uma ligação entre insegurança e imigração.
O candidato da coligação considerou que "há outras questões mais importantes" a exigir a ação municipal, "desde logo a questão da habitação", cujos preços elevados estão a fazer com que o concelho esteja "demograficamente em declínio", com a população a envelhecer e os jovens a abandonarem o concelho.
O candidato do Chega, Rui Cristina, considerou Albufeira um concelho "seguro", mas que tem "duas bolsas de insegurança" que causam "verdadeira preocupação" e de onde surgem relatos e vídeos com "indícios de insegurança" que "têm de ser resolvidos" com mais policiamento municipal e câmaras de videovigilância.
Rui Cristina defendeu a criação de um Centro Municipal de Coordenação de Segurança, uma infraestrutura que incluiria a GNR, terminais de videovigilância, Polícia Municipal, bombeiros, Proteção Civil e alguma entidade de saúde "para fazer face a estes dois focos" e evitar que os casos "se alastrem ao resto da cidade".
Imigração necessária
Rui Cristina admitiu que a imigração "é necessária" para a atividade económica de Albufeira, mas defendeu que "deve ser controlada" e disse que a sua candidatura tem "consciência de que os sem-abrigo são o maior problema" do concelho, seguido da saúde.
O candidato da Iniciativa Liberal, Miguel Matias, rejeitou a ideia de que a segurança seja um problema no concelho, mas disse que há a perceção de que "está no ecrã", há relatos de roubos e desordens e que deve haver um reforço do policiamento comunitário.
"A habitação, na nossa opinião, é o maior problema que Albufeira enfrenta", concordou Miguel Matias, lamentando que o elevado custo deste bem de primeira necessidade esteja a "afastar os jovens" e a "sufocar quem trabalha" no concelho.
O candidato do IL defendeu a revisão do Plano Diretor Municipal (PDM), que data de 1995 e "bloqueia o desenvolvimento", propondo a criação de um "gabinete de obras 2.0" para agilizar os processos e defendendo a "regulamentação" na área da imigração, necessária para o arranque da atividade económica.
A Lusa tentou por diversas vezes contactar o candidato da CDU à Câmara Municipal de Albufeira para incluir a sua posição neste trabalho e para ouvir todos os candidatos, mas sem sucesso.
As eleições autárquicas realizam-se a 12 de outubro.