Muitos destes investidores chegam motivados pelo estilo de vida, segurança e vantagens fiscais, mas a maioria não tem experiência em operações cambiais. Esse detalhe pode parecer técnico, mas é decisivo. A taxa de câmbio do dólar em relação ao euro influencia de forma direta a capacidade de compra e pode ditar o sucesso ou o fracasso de uma transação.

Um dólar fraco significa que cada euro se torna mais caro para quem investe a partir dos Estados Unidos. Imóveis que no início do processo pareciam acessíveis podem, no momento da escritura, revelar-se financeiramente inviáveis. A consequência imediata são desistências, cancelamentos de contratos e instabilidade para promotores e agentes imobiliários. Isso gera riscos para todo o setor, sobretudo se a dependência de compradores de um único mercado aumentar.

As causas desta volatilidade estão fortemente ligadas à política monetária norte-americana. A economia dos Estados Unidos mostra sinais de desaceleração, agravados por tarifas comerciais e tensões internacionais. O Federal Reserve tem sinalizado cortes nas taxas de juro, o que tende a enfraquecer ainda mais o dólar em relação ao euro. Ao mesmo tempo, bancos norte-americanos dificultam a transferência de capitais para o exterior, procurando proteger a sua própria liquidez. Estas restrições complicam ainda mais a vida de quem quer investir em imóveis fora do país.

A instabilidade cambial não afeta apenas investidores individuais. Para o setor imobiliário português, representa uma vulnerabilidade estrutural. Se a procura vinda dos Estados Unidos diminuir devido a um dólar fraco, a entrada de capitais pode perder força, reduzindo o dinamismo que marcou os últimos anos. A dependência excessiva de um mercado externo aumenta o risco de choques repentinos e obriga os operadores a repensar estratégias.

Há, no entanto, formas de gerir este risco. Investidores e empresas podem recorrer a instrumentos financeiros como os contratos a prazo, que permitem fixar a taxa de câmbio e dar previsibilidade às operações. Mais do que isso, é essencial adotar uma estratégia clara: identificar a exposição ao risco, definir limites, acompanhar resultados e ajustar posições sempre que necessário.

Ignorar o câmbio ou confiar apenas na sorte pode comprometer margens de lucro e colocar em causa investimentos de longo prazo. A lição é simples: Portugal não está isolado das políticas monetárias dos Estados Unidos. O impacto de um dólar fraco atravessa fronteiras e pode condicionar tanto a rentabilidade de investidores como a solidez de um setor que se tornou vital para a economia nacional.