Um consórcio de empresas nacionais lançou um ambicioso projeto de dez milhões de euros no âmbito do programa PT2030 para desenvolver um chip inovador para telecomunicações de fibra ótica. Inteiramente concebido e com propriedade intelectual portuguesa, este novo dispositivo representa mais do que um avanço tecnológico, é um símbolo de independência, inovação e da posição crescente de Portugal na indústria global de semicondutores.

O projeto, conhecido como Micro Ampere, visa criar uma nova geração de chips que combinam microeletrônica com fotónica. Esta combinação permitirá uma maior flexibilidade, um melhor desempenho e, acima de tudo, uma maior eficiência energética. À medida que os centros de dados e os sistemas de inteligência artificial consomem quantidades cada vez maiores de eletricidade em todo o mundo, a necessidade de chips mais eficientes e sustentáveis tornou-se urgente. Esta inovação portuguesa chega no momento certo, oferecendo uma alternativa mais inteligente e sustentável.

Um dos aspetos mais promissores desta iniciativa é o seu foco na redução da dependência dos principais fornecedores internacionais. Ao desenvolver um chip concebido e produzido com tecnologia nacional, Portugal está a reforçar a sua soberania tecnológica e a provar a todos que a inovação europeia pode competir no palco global. O dispositivo será compatível com os sistemas de fibra ótica atuais, enquanto já preparado para as próximas gerações de redes de 50 e 100 gigabit por segundo esperado para a próxima década.

O projeto inclui ainda a criação de um novo hub de fotónica em Aveiro, um desenvolvimento que consolidará ainda mais a reputação de Portugal como centro de tecnologia avançada e investigação aplicada. A criação deste centro representa um passo estratégico na ligação entre a indústria, o meio académico e as instituições de investigação, criando um ambiente onde o conhecimento, a engenharia e a inovação podem crescer em conjunto.

A importância deste projeto vai muito além das telecomunicações. Os mesmos princípios de eficiência, miniaturização e gestão inteligente de energia que impulsionam o projeto Micro Ampere também são essenciais para o futuro da inteligência artificial e do processamento de dados. Cada modelo de IA, cada serviço de nuvem e cada dispositivo conectado depende da capacidade de processar dados mais rapidamente e com menos energia. Chips como este são a base sobre a qual a economia digital é construída.

A crescente aposta de Portugal nos semicondutores, apoiada por iniciativas do PRR e PT2030, demonstra uma clara direção estratégica. O país deixou de ser apenas um consumidor de tecnologia avançada para se tornar um desenvolvedor e produtor ativo. A criação de propriedade intelectual local num campo tão sofisticado é um sinal de maturidade, ambição e visão.

Se for bem-sucedido, este projeto poderá ter um efeito transformador na economia portuguesa, posicionando Portugal como um ator relevante no panorama europeu dos semicondutores. Poderia atrair mais investimentos, promover a formação especializada e inspirar uma nova geração de engenheiros e investigadores.

Portugal tem sido muitas vezes reconhecido pela sua criatividade e adaptabilidade. Com projetos como este, está a demonstrar ao Mundo que também pode levar a áreas que definem o futuro da inovação global. Para mim em particular a iniciativa Micro Ampere não é apenas sobre um chip, é sobre uma nação, o nosso futuro, assumindo o controle do seu destino tecnológico, provando que a inteligência sustentável pode ser projetada, construída e alimentada a partir de Portugal.