“A tecnologia ainda não está na fase comercial. Isso significa que ainda há problemas técnicos a serem resolvidos do ponto de vista da sobrevivência [do equipamento], porque os custos positivos devem sobreviver às duras condições do mar”, explicou.

Luís Gato falava na abertura da 16ª Conferência Europeia de Energia das Ondas e Marés (EWTEC2025), organizada pelo Instituto Superior Técnico (Instituto Técnico), que decorre no Funchal, Madeira, até quinta-feira. Ele reunirá cerca de 400 participantes de pesquisa, indústria, investimento e políticas públicas do setor, vindos da Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão e Coréia do Sul.

“Estamos na fase de pesquisa e desenvolvimento a nível nacional e internacional”, disse, acrescentando: “Temos um grupo de pesquisa no Instituto Superior Técnico, que é reconhecido internacionalmente, e trabalhamos em cooperação com universidades europeias e projetos de outras regiões”.

O objetivo, ele explicou, é desenvolver energia renovável marinha, especialmente a partir de ondas e correntes, que são “altamente previsíveis”, e produzir eletricidade em “grande escala”.

Luís Gato disse que atualmente são projetos piloto, e ainda não houve uma convergência de tecnologia para padronizar o equipamento, como ocorreu com as turbinas eólicas, cujas fundações agora contam com um eixo horizontal e três pás.

“Não estamos em uma fase verdadeiramente comercial (...), como é o caso das turbinas eólicas”, disse ele, antes de acrescentar: “Talvez precisemos de mais 20 anos para nos tornarmos comerciais”.

O responsável considerou que as necessidades energéticas do mundo estão aumentando constantemente e que, por outro lado, atingir as metas de descarbonização exigirá o uso de todas as fontes de energia renováveis, mesmo que tenham um preço mais alto.

“Sabemos que existe uma relação entre o Produto Interno Bruto e o consumo de energia, e isso significa que, à medida que os países se desenvolvem, eles precisam de mais e mais energia”, explicou, enfatizando que essa pressão está sendo sentida atualmente pela China, mas também pela Índia e outros países.

“A perspectiva é que a energia seja um recurso que deve ser conservado e nunca será barato. Os preços da energia tenderão a aumentar”, alertou.

Luís Gato disse que escolher a Madeira como sede da 16ª Conferência Europeia sobre Energia das Ondas e Marés teve como objetivo “chamar a atenção” dos líderes do setor, especialmente dos formuladores de políticas, para a importância da energia renovável marinha, bem como aumentar o envolvimento da região, universidades e empresas em projetos futuros.

“O país, incluindo a Madeira e os Açores, tem uma grande zona econômica exclusiva e possui um recurso muito abundante no mar”, enfatizou.

O diretor regional do Ambiente e do Mar, Manuel Ara Oliveira, afirmou que a Madeira está “aberta à inovação” e destacou algumas áreas em que a região foi pioneira, como a instalação do primeiro parque eólico do país em 1986 na ilha do Porto Santo.

“Nas energias renováveis, a Madeira tem assumido riscos. As coisas nem sempre correm tão bem quanto esperávamos, mas na verdade, na maioria dos casos, tem sido muito positivo”, disse ele.

No caso da energia das ondas e das marés, ele disse que também há oportunidades para “projetos maduros”.

“Precisamos trilhar nosso caminho com seriedade, por razões de segurança e também por razões econômicas e sociais”, alertou.