A criação da Critical FlyTech, a nova joint venture entre a portuguesa Critical Software e a gigante Airbus, é uma dessas notícias. Não apenas pela dimensão do projeto, mas pelo que representa para o país, para a nossa indústria tecnológica e para o lugar de Portugal nas cadeias de valor globais.

A Critical FlyTech nasce com uma missão muito clara. Desenvolver software aeroespacial de altíssima confiança, destinado a aviação, espaço e defesa. Começará a operar no início do próximo ano com 120 especialistas e pretende chegar aos 300 até 2028. Este crescimento, por si só, já impressiona. Mas o que verdadeiramente importa é o que isto simboliza para Portugal. Estamos a falar de engenharia de topo, certificada nos padrões mais exigentes do mundo, aplicada a sistemas de missão crítica onde não há margem para erro.

Esta nova empresa une a experiência consolidada da Critical Software, uma das maiores referências nacionais em engenharia de software, à escala global e industrial da Airbus, que já emprega mais de mil pessoas em Portugal. Não é todos os dias que vemos uma multinacional deste calibre escolher o nosso país para reforçar capacidades estratégicas. E isso diz muito sobre o caminho que temos feito.

Portugal tem talento. Tem competência técnica. Tem estabilidade. Tem visão empresarial. E, cada vez mais, tem um ecossistema tecnológico capaz de gerar soluções que competem com as melhores do mundo. Este projeto é prova disso.

A Critical FlyTech irá trabalhar em áreas tão distintas como sistemas de avionics, sistemas de cabine e soluções de conectividade. Mas, acima de tudo, irá desenvolver software que precisa de ser absolutamente perfeito. Software que garante segurança, certificação, fiabilidade e planeamento de missões. Software que não pode falhar porque vidas dependem dele. Entrar neste nível de exigência é entrar no núcleo da inovação aeroespacial.

Para Portugal, isto representa muito mais do que novos empregos qualificados. Representa subir na cadeia de valor. Representa deixar de ser apenas um fornecedor e passar a ser cocriador. Representa consolidar o país como parceiro estratégico de um dos setores mais complexos, inovadores e tecnológicos da economia global.

E representa também uma mensagem poderosa para o futuro. A engenharia portuguesa não está condenada a ser periférica. Pelo contrário, está a tornar-se central em projetos transformadores, alinhada com tendências como a digitalização, a segurança operacional, a conectividade e a nova geração de plataformas aeroespaciais.

O que me entusiasma neste anúncio é a sensação de que estamos a assistir a um novo capítulo da indústria tecnológica portuguesa. A Critical FlyTech é mais do que uma empresa. É um sinal. Um sinal de maturidade, de reconhecimento internacional e de que Portugal está pronto para integrar, de forma estável e duradoura, o círculo restrito das nações que produzem tecnologia crítica para o futuro da aviação e do espaço.

Este é o tipo de notícia que mostra que chegámos mais longe do que imaginávamos. E que, afinal, o céu não é o limite. É apenas o próximo desafio.