Em agosto de 2005, afastei-me rapidamente de uma bola de fogo de dois metros de largura que descia ferozmente a rua íngreme e inclinada que levava à minha casa à beira do lago, situada na Albufeira do Castelo do Bode, mesmo em frente à pitoresca mas abandonada estalagem Ilha do Lombo.

Em poucos minutos, o fogo avançou para ocupar os três limites onde eu tinha previamente instalado um sistema de rega que era abastecido com água bombeada de um pontão na praia que formava o quarto limite. Em breve, juntaram-se a mim os vizinhos que tinham atravessado nobremente em pequenos barcos a partir da segurança da margem oposta, transportando uma série de extintores, vassouras, baldes e pás para repelir qualquer avanço em direção à minha casa, que ficou como um pequeno oásis de verde numa paisagem cinzenta

Esta experiência de fogo foi uma das várias que tentaram engolir a minha casa ou a minha empresa depois da minha emigração para Portugal em 1989. A cada devastação regional, seguia-se o habitual torcer de mãos e as promessas oficiais de reforma e de indemnização, que só eram esquecidas quando chegavam as chuvas outonais e a concretização de outros assuntos políticos ganhava prioridade.

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Nas últimas semanas, assistimos à repetida cobertura mediática (nalguns casos usando palavras e imagens de outrora) de incêndios rústicos e ouvimos as habituais recriminações entre governos anteriormente rivais, relatos de aviões/equipamentos decrépitos e a bravura e determinação dos cidadãos perante a tristeza extrema causada pela destruição de bens, ferimentos e mortes.

A tudo isto juntou-se a assustadora inferência de que a responsabilidade não reside apenas na inevitabilidade do incendiarismo amador, mas indiretamente nos interesses mineiros e na agricultura intensiva que pretendem explorar os frágeis tesouros da mãe terra.

Se as temperaturas máximas e os períodos prolongados de seca continuarem a estar na ordem do dia, a propagação de incêndios florestais será inevitável. Uma ideia que tem vindo a ser proposta desde há muitos anos é a instalação estratégica de uma rede de condutas de água bombeada das albufeiras e dos rios para as terras altas florestadas, de modo a que os corta-fogos possam impedir a propagação das chamas e também ajudar a extingui-las nas encostas mais baixas.

A defesa do território nacional deve ter prioridade sobre a contingência de guerras no estrangeiro. Deve haver uma fusão da polícia, das forças armadas e das entidades civis para formar esquadrões regionais especificamente treinados e equipados para responder a catástrofes naturais. O financiamento deve ser assegurado pelo desvio de uma percentagem do PIB para fornecer tudo o que é essencial para o bem-estar pacífico da população e para evitar uma maior perda do nosso habitat natural.

por Roberto Cavaleiro - Tomar. 26 de agosto de 2025